sábado, 28 de março de 2020

Resenhando #5: Desvantagem vocal em cantores populares

No #resenhando de hoje, vamos conversar sobre o artigo da semana: "Desvantagem vocal em cantores populares"

O artigo inicia trazendo um dado importante: o fato de haver elevada prevalência de distúrbios vocais entre os cantores, sendo relatado por eles próprios, com ocorrência maior nos cantores populares.

Para os cantores populares o desvio vocal pode ter dois significados: a alteração vocal em sim, patologicamente falando, ou como uma característica performática do cantor. Para os cantores líricos qualquer desvio vocal é inadmissível. 

O objetivo desse estudo foi "verificar a associação das características sociodemográficas, comportamentais, ocupacionais e da saúde com a desvantagem vocal de cantores populares".
Os autores fizeram uso de um questionário produzido por eles e o do protocolo Ìndice de desvantagem para o canto moderno (IDCM). Esse último protocolo é dividido em 3 subescalas: incapacidade (refere-se ao aspecto funcional, relacionada ao impacto do problema da voz nas atividades profissionais); desvantagem (relacionada ao impacto psicológico do problema de voz); e defeito (relativo ao aspecto orgânico, relacionado coma  autopercepção das características da própria voz)

Quais foram os resultados encontrados e discutidos pelos pesquisadores?

1- Elevada desvantagem vocal entre os cantores populares. No protocolo IDCM a subescala com maior prejuízo foi "defeito", que se refere ao aspecto orgânico. A desvantagem vocal em cantores pode ser interpretada como falta de conhecimento técnico, grande demanda vocal e curta experiência no canto.

2- Maior desvantagem vocal em cantores com o menor tempo de experiência no canto popular. Um curto tempo na carreira como cantor popular, pode predispor a um menor tempo de consciência vocal e treinamento formal para lidar com a demanda de trabalho.

3- Cantores que não intercalam as músicas com outro cantor, durante os shows, apresentam maior desvantagem vocal em relação aos cantores que alternam. Tal comportamento permite que o cantor realize um repouso vocal parcial durante as apresentações, o que demonstrou favorecer a melhor saúde vocal

4- Os cantores não tem o hábito de desaquecer a voz, após as apresentações musicais, apresentaram maior desvantagem vocal. Tanto o aquecimento, quanto o desaquecimento vocal são importantes, pois estes procedimentos podem dar condições para que os cantores consigam realizar os ajustes vocais, sem prejudicar a sua vida profissional. O aquecimento e o desaquecimento vocal personalizado proporcionam ao cantor popular maior flexibilidade vocal, permitindo a exploração, de forma saudável, de suas marcas e identidade vocal.

5- Cantores que autoperceberam a voz falada como razoável, apresentaram maior desvantagem vocal no canto popular, quando comparados aos demais entrevistados com uma avaliação mais positiva da voz. A percepção do distúrbio vocal na voz falada de cantores populares pode indicar dificuldades e prejuízos também na voz cantada, sendo que ambas precisam ser consideradas e avaliadas durante a atuação fonoaudiológica.

6- A maioria dos cantores relatou boa saúde geral, quanto a presença de infecções das vias aéreas superiores, sintomas de azia e diagnóstico de RGE. Infecções nas vias aéreas superiores podem contribuir ou aumentar o mau uso vocal, uma vez que as as alterações fazem com que o uso da voz se dê em condições inapropriadas, ou seja, na presença de mucosas ressecadas, edemas e irritação do trato vocal. Apesar das consequências de tais morbidades sobre a voz, a presença destas entre os cantores não influenciou a percepção sobre a desvantagem vocal.

7- Boa hidratação durante as apresentações com os cantores, porém a quantidade diária de ingestão de água relatada pela maioria foi inferior a dois litros. A laringe bem hidratada favorece a menor pressão de ar sobre as pregas vocais para iniciar a fonação, reduzindo o nível de pressão de fonação e a fadiga vocal. Além disso, o atrito entre as pregas vocais decorrentes do pigarro e da tosse pode ser evitado.


Nesse artigo temos o reforço da ideia de que informar e conscientizar os cantores populares sobre os cuidados vocais e a necessidade de acompanhamento fonoaudiológico, de um professor de canto e otorrinolaringologista, são essenciais para a boa saúde vocal e também para uma boa performance vocal. A partir do momento em que esses profissionais da voz tem conhecimento do seu instrumento de trabalho e passam a cuidar dele, eles terão a possibilidade de terem uma maior longevidade vocal e evitar o aparecimento de lesões que interfiram em suas atividades.

Para ler o artigo completo é só clicar aqui.

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Sara F. Rios


quarta-feira, 4 de março de 2020

Resenhando #4: Relação s/z e tipos de voz

Ó - LÁ !

Vamos para mais um resenhando e o artigo da vez chama-se "Disfonias: relação s/z e tipos de voz" (clique aqui para ter acesso ao artigo completo)

Recomendo a leitura desse trabalho pra todo mundo. A medida que os autores apresentam e discutem os resultados, eles trazem vários conceitos sobre avaliação, correlacionando os achados com patologias. Também trazem outros estudos que corroboram os achados desse artigo, e olha, foram muitos achados. Eu contabilizei e foram 17 pontos bem interessantes que os autores puderam revelar nesse estudo. Eu vou apresentar os achados que considero mais relevantes pra esse post #resenhando.

Vamos lá!

Na introdução, os autores trazem os conceitos sobre avaliação  perceptivo auditiva e especificamente sobre a relação s/z.
O objetivo do estudo foi verificar o resultado da relação s/z e o tipo de voz em paciente com disfonias funcionais e organofuncionais.
Os dados foram colhidos do banco de dados dos pacientes com queixa de voz que foram atendidos no Serviço de Atendimento Fonoaudiológico da clínica-escola da UFSanta Maria/ RS.
Nos resultados os autores organizaram os dados em tabelas.
Dos pontos discutidos no artigo, o primeiro que quero comentar é o "percentual significativo de sujeitos apresentado DOF" (disfonias organofuncionais). As disfonias organofuncionais são na verdade disfonias funcionais com diagnóstico tardio que evoluíram, devido á demora de solução do problema ou pelo desconhecimento da possibilidade de desenvolvimento de uma lesão. Por isso, é tão importante o trabalho de conscientização, principalmente daqueles que usam a voz como instrumento de trabalho. Quanto mais cedo tratado, menos riscos de evoluir para uma disfonia organofuncional, onde o tratamento é mais difícil.
Outro ponto foi o fato de que a patologia com maior ocorrência ter sido o nódulo e a rouquidão e soprosidade terem sido as qualidade vocais mais identificadas. Esse tipo de qualidade vocal também está relacionado com a presença de nódulos.
Na relação s/z 77% dos sujeitos apresentaram algum tipo de alteração vocal. Nas disfonias funcionais apesar de não apresentarem lesão orgânica ao exame laringológico, podem apresentar alteração em nível de ressonância, respiração, pitch, loudness, modulação e/ou gama tonal.

Esses foram alguns dos achados que achei interessante, mas existem muitos outros. Esse artigo é riquíssimo e vale muito a pena a leitura!

Agora, me conta aqui embaixo nos comentários: o que estão achando da série #resenhando, onde comento um pouco das minhas impressões sobre os artigos científicos que tenho lido?

Até a próxima!

Sara Rios
Fonoaudióloga